Acho
interessante comparar o tratamento ortodôntico a uma longa viagem, na qual o
profissional precisa entender as necessidades do seu cliente para saber até
onde ir, deve planejar a rota de modo a realizar um bom diagnóstico dos
possíveis problemas no trajeto e finalmente pilotar adequadamente o veículo (no
nosso caso, os aparelhos ortodônticos) até o destino final. O entendimento do
quadro completo, a atenção com os detalhes e o cuidado em cada fase do processo
caracterizam uma ortodontia de sucesso.
Esta analogia é especialmente válida para entendermos o tratamento ortodôntico
dos pacientes com comprometimento periodontal, matéria de capa desta edição.
Neste tipo de terapia poderíamos imaginar que foi prevista uma tempestade ao
longo do trajeto.
Nossa primeira tarefa é estimar a dimensão da tormenta, se necessário com a
ajuda de especialistas na área climática. O mesmo deve ser feito no consultório,
valendo-se dos profissionais de Periodontia, Implantodontia e Prótese Dentária
e exames diagnósticos detalhados. Os conhecimentos reunidos por esta junta
clínica podem deliberar se o deslocamento é inviável, caso a “tempestade
periodontal” seja muito intensa, ou se o percurso é possível, neste caso
mapeando a rota mais segura para o caso. Por vezes, deixar de realizar um
tratamento ortodôntico é a melhor opção para o paciente.
Em seguida selecionaremos o “veículo” mais adequado para fazer a viagem com
eficiência e segurança. Imaginem que enfrentar um mesmo temporal com um avião,
um barco ou um automóvel pode ser bastante diferente. De maneira análoga, as
mecânicas ortodônticas muito intensas, que aplicam forças pesadas em curtos
períodos de tempo, são extremamente arriscadas em pacientes com envolvimento
periodontal severo. Talvez seja melhor optar por movimentação dental mínima,
com longos intervalos entre as ativações, uma vez que há pouca área de inserção
do ligamento periodontal.
A “pilotagem” do tratamento ortodôntico é o controle biomecânico, enfatizando
que estes pacientes possuem o centro de resistência deslocado para apical e por
isso a tendência de inclinar os dentes é muito maior. Assim, o ortodontista
precisa conduzir a mecânica com máxima atenção durante todo o percurso. Traumas
oclusais, surgidos durante a terapia, podem ter efeitos devastadores em um
paciente de periodonto frágil.
Para concluir, devemos ter em mente que a prioridade de nosso
tratamento, assim como na pilotagem de um veículo, é levar o cliente a salvo
até o destino final.
Flávio Cotrim-Ferreira
Editor científico
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